quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Destaque: Ernandi Rodrigues Thiago - UMA LUZ QUE NASCEU DA ESCURIDÃO

Um exemplo de superação. Assim pode ser definido o servidor Ernandi Rodrigues Thiago, que atua no Pólo Avançado do Núcleo de Conciliação das Varas de Família. Mesmo preso a escuridão, devido a cegueira irreversível manifestada desde os 19 anos de idade, tornou-se uma inspiração por onde passa.
Portador de uma doença congênita que leva à perda gradativa e irreversível da visão, chamada retinose pigmentar, Ernani teve motivos suficientes para limitar-se - como várias pessoas fazem por muito menos. Rebento de uma família pobre, durante muito tempo trabalhou como camelô, depois tornou-se radialista e industriário até ser surpreendido pela perda drástica da visão.
“Foram tempos difíceis”, relembra. Perdeu o emprego, os “amigos”, a vontade de viver... mas restou-lhe a família. Casado e pai de uma filha, aos 43 anos já havia perdido 90% da capacidade de enxergar. Desmotivado pelos médicos a buscar tratamento, contou com a ajuda dos parentes e tomou uma decisão: ser feliz e retomar todas as oportunidades que não via quando ainda podia enxergar.
Em sete anos concluiu o ensino fundamental e médio, por meio do EJA (Educação para Jovens e Adultos) e ainda formou-se em Direito pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), após concorrer em pé de igualdade com os demais inscritos no vestibular de 2006 da instituição.
“Aprendi que sonhar é de graça”. E tanto sonhou, e batalhou, que hoje está escrevendo sua história pelas próprias mãos. Descobriu a paixão pelo Direito e investiu nela.

Um dia encontrou o juiz Gildo Carvalho, nas dependências da Ufam e quis conversar sobre a possibilidade de trabalhar como voluntário no Pólo Avançado, que é coordenado pelo magistrado. “Com a sabedoria de fazer-nos descobrir o nosso melhor, ele não facilitou o caminho para mim. Disse que eu tinha que concorrer com os demais interessados, mas que seria melhor eu participar do processo seletivo para estagiário para garantir uma bolsa-auxílio. Duvidei da minha capacidade, mas me fortaleci na confiança que ele passou. Fiquei em 8º lugar dentre os 30 inscritos”.
Daí começou sua história no lugar que ele considera o melhor do mundo. “Amo o Tribunal de Justiça, quero fazer carreira aqui”. Em 2009 foi contratado pelo TJ-AM, por iniciativa do desembargador Domingos Chalub, então presidente, que abriu oportunidade para talentos com necessidades especiais.
Mesmo aprovado nos concursos das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde (Susam e Semsa), recusou o cargo para continuar o que mais aprecia na vida: “trabalhar no judiciário amazonense, em prol da sociedade”.
Seu objetivo atual é ser aprovado no exame de Ordem (OAB).
Hoje é conciliador. Se orgulha de fazer parte de uma equipe que resolve cerca de 99% dos processos pelas vias do acordo.

No último sábado (05.02), colou grau junto com outros 50 novos bacharéis em Direito que nem de longe enfrentaram tantas dificuldades para concluir o curso.
Sem a possibilidade de ler, ao longo dos cinco anos de faculdade contou com o apoio dos amigos e com a ajuda incansável de sua monitora Mariana Schettini para gravar em áudio o conteúdo dos livros e revisar todo o material.
Para a colega de turma, Jucimara Silva, que trabalha na corregedoria-geral de Justiça do TJ-AM, quando por algum motivo alguém pensava em desistir do curso, logo lembrava do exemplo de força e de superação do Ernandi. “O que nos fazíamos por ele era somente retribuir a inspiração que ele oferecia gratuitamente para turma”, comenta.
O próximo objetivo desse obstinado cidadão é tornar-se magistrado do TJ-AM para atuar na área de família, seguindo os passos do juiz Gildo Carvalho, a quem admira. “Sei que o nível de conhecimento é alto, por isso o caminho é longo e difícil, mas estou disposto a trilhá-lo”, assegura.
E alguém duvida que ele vá conseguir?
“Hoje, aos 51 anos, trago a certeza que obstáculo existe para ser superado”, conclui Ernandi, demonstrando o motivo de ser uma pessoa tão especial - no verdadeiro sentido da palavra.

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